Passado Imperfeito

1. Introdução

Este trabalho é parte de uma investigação iniciada em 2020 e insere-se em temas relacionados com a memória e o tempo da imagem, que visa explorar em desenho a expressão da fotografia antiga como um objecto que evoca referências do passado.
Desta forma, estes desenhos procuram imitar as imperfeições e as marcas inerentes aos processos de fixação da fotografia antiga e construir assim um veículo que possibilite percepcionar as noções da memória e do tempo na imagem desenhada. Para incrementar esta ideia, optou-se por criar desenhos cuja temática sugerisse ambientes suaves de contemplação e interioridade romântica, tanto na representação figurativa como na paisagem, de forma a delimitar a atenção não só ao conteúdo do que está representado, como também potenciar as marcas de antiguidade criadas para o efeito. Embora os desenhos se assumam isolados no seu próprio conteúdo, enquanto expostos poderão relacionar-se entre si adquirindo novas leituras e interpretações para quem observa.

2. Projecto

Estes desenhos caracterizam-se por explorarem o processo e as marcas do tempo inscritas nas fotografias de artistas como Henri Fox Talbot, cujas imagens descrevem as experiências no trabalho de fixação da imagem, as imperfeições e as descolorações inerentes aos resultados obtidos pelo autor.
Ao transportar para os desenhos estas características, que expressam visualmente essa forma de antiguidade, concluí que elas poderiam acrescentar e redefinir melhor a conceção do tempo na imagem desenhada. Criou-se assim uma semelhança entre o desenho e a fotografia, com vista a potenciar um discurso visual relacionado com a passagem do tempo e com a memória, imitando para este efeito o resultado processual da fotografia, no corpo do desenho. Considerando-se que o que é relativo à memória é normalmente identificado como uma imagem descolorada ou pouco nítida, procurei que o processo desenvolvido no desenho denunciasse as perceções tradicionais da fotografia. Não no sentido pictorialista, que na época se propunha a transformar a imagem fotográfica numa obra de cariz pictórica, mas no sentido inverso - evocar o processo fotográfico através do desenho. Desta forma, o desenho pode assumir-se como o espelho de um novo discurso do real ao adotar as características dessa expressão.